Se a indústria automotiva nacional enfrentou momentos de crise com a pandemia, com semicondutores em falta e versões básicas com cada vez menos componentes (a Chevrolet que o diga), 2023 se mostrou um ano extremamente produtivo tanto para os 0km quanto para os seminovos. Ambos os segmentos conseguiram aumentos significativos em seus números, atingindo recordes em alguns meses e mostrando que existe esperança para o ano de 2024. Então, vamos dar uma passada pelos principais pontos do último ano para entendermos o que este ano reserva para os consumidores.

SEMINOVOS – 2023 É O TERCEIRO MELHOR ANO, E 2024 PODE TER RECORDE

   14.448.434 veículos seminovos e usados foram vendidos no Brasil em 2023, que se tornou o terceiro melhor ano da história deste segmento. Segundo dados divulgados pela Fenauto (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores), o último ano ficou atrás apenas dos recordes de 2021 e 2019, mas a projeção é de que o recorde histórico de 15 milhões de seminovos vendidos em 2021 seja ultrapassado com folga no ano que acaba de começar. Parte desse resultado foi motivado pelo grande número de negociações que ocorreu no mês de dezembro, que deu uma guinada no setor e elevou as esperanças dos revendedores.

   É fácil entender o motivo desse número elevado: dois dos principais fatores que mais impedem que as pessoas comprem um carro ou até troquem de veículo, segundo dados disponibilizados pelo Data Autos da OLX, são justamente os preços elevados do mercado e as dificuldades para concluir uma negociação, ou seja, a dor de cabeça que é conseguir entrar num financiamento ou atingir condições de pagamento que encaixem no orçamento do consumidor. Quando se olha para os veículos 0KM, os preços iniciais de um carro básico começam em R$ 71.190, preço da versão Zen 1.0 do Renault Kwid, atualmente o carro zero mais barato do país. Como já foi dito nesse blog, as negociações no segmento dos 0km podem ser um poucos mais complicadas, então, o consumidor poderá encontrar o que procura ou até mesmo algo melhor ao procurar um veículo seminovo/usado. Para fins de curiosidade, com R$ 2 mil a mais que o valor do Kwid, é possível comprar um Honda Civic LXR 2.0 2016 Automático, sedã que possui um preço na Tabela FIPE de R$ 73.855, e que ainda oferece muito mais conforto e itens do que o hatch francês.

   E já que falamos sobre valores, os seminovos e usados possuem uma grande vantagem por conta dos baixos preços que são praticados neste mercado. Veículos mais antigos, com mais de 13 anos de uso, seguem liderando as vendas no ramo, com um destaque especial para lendas do mercado brasileiro como o Volkswagen Gol, campeão do mercado de 0km por 27 anos e que, agora que saiu de linha, fechou o ano com mais de 746.374 vendas. Outros veículos também são destaque, como o FIAT Uno e o Palio, o Chevrolet Onix etc. Muitos desses veículos podem ser encontrados com preços inferiores a R$ 20 mil, além de possuírem baixo consumo de combustível, menores custos de manutenção e uma grande facilidade na hora de comprar peças. Em todo o caso, o mercado de seminovos/usados só tem a crescer em 2024, que promete ser um ano ainda mais estável economicamente para os brasileiros, possibilitando que mais pessoas consigam comprar ou trocar de carro.

0KM - UM MERCADO QUE NÃO É PARA QUALQUER UM

   Se os seminovos e usados tiveram um ano tranquilo, o mesmo não pode ser dito dos veículos zero quilômetro. O mercado nacional enfrentou diversos problemas ao longo do ano, tendo seu grande momento quando o incentivo fiscal foi anunciado pelo Governo Federal. Mesmo com todas as dificuldades (layoffs, diminuição na produção de veículos etc), o último ano foi bem promissor para o setor: 2.179.363 automóveis e comerciais leves foram emplacados, cerca de 11% a mais do que em 2022 segundo dados fornecidos pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). É importantíssimo dar os devidos créditos para os dois maiores nomes que lideraram as vendas: o vice Volkswagen Polo e a campeã das picapes, a FIAT Strada. O Polo conseguiu exorcizar de vez o fantasma do Volkswagen Gol, se tornando o hatch mais vendido do país e conquistando seu espaço no mercado. Já a Strada dispensa comentários, sendo a rainha tanto para quem deseja uma picape casual quanto para quem necessita de um veículo mais pesado para trabalho.

   O mercado também presenciou o surgimento de uma nova tendência: os veículos elétricos/híbridos chegaram para ficar e continuam crescendo cada vez mais. Apesar das discussões envolvendo a volta do imposto de importação, o cenário é extremamente positivo quando se vê um crescimento de 90% no emplacamento de elétricos e híbridos. O Toyota Corolla Cross foi o destaque do mercado, mas as marcas chinesas não estão para brincadeira: a BYD e a GWM seguem emplacando cada vez mais veículos, e novidades chegarão ao país em 2024. O lançamento do BYD Dolphin Mini, por exemplo, será um fator decisivo para o crescimento dos EVs, uma vez que o hatch será posicionado próximo do CAOA Chery iCar, atualmente o elétrico mais barato do país. Já nos híbridos, novidades vindas da Ásia são cotadas para o país, como o lançamento do GWM Haval H4 e a chegada do BYD Song Pro. Em todo o caso, o segmento segue se atualizando para não ficar tão atrás do rival direto.

   O cenário para os 0km, segundo as projeções, é extremamente positivo, ainda mais com as montadoras cada vez mais dedicadas a lançarem veículos de entrada. O aumento dos preços é inevitável, mas novos veículos são esperados e, com isso, a chegada de valores mais competitivos é algo que pode se tornar realidade. O mercado espera um crescimento de 12% para o setor de automóveis e comerciais leves, enquanto segmentos específicos como o dos elétricos esperam um crescimento de 60% em relação ao ano que passou.

SUV - O SEGMENTO QUE SEGUROU OS 0KM

   Os Sport Utility Vehicles, popularmente conhecidos pela sigla SUV, certamente são os grandes protagonistas do mercado nacional. Com astros como o Chevrolet Tracker, Volkswagen T-Cross e o já mencionado Toyota Corolla Cross, a categoria foi responsável por aproximadamente 45% das vendas de automóveis zero quilômetro no Brasil. Os SUVs compactos seguem sendo os mais vendidos, liderados pelo T-Cross, que abriu uma vantagem considerável em relação ao Tracker e ao Hyundai Creta. Devido a barreira de preços, os Médios e Grandes ainda não emplacam tanto, mas possuem uma parcela de participação muito boa no mercado.

   3 dos 10 veículos mais vendidos no ano de 2023 foram SUVs, brigando por espaço contra os queridinhos do Brasil, os hatches. Apenas um sedã, o Onix Plus, figurou na lista, o que mostra como o mercado nacional vem mudando e passa a se alinhar com mercados como o norte-americano, conhecido pelo seu alto número de emplacamentos em SUVs e picapes. É interessante observar como veículos como o Renault Kwid tiveram menos vendas do que o Creta, ainda que a diferença de preço entre os dois seja considerável.

   Apesar do fato de, tomando um ponto de vista um pouco mais frio para essa opinião, serem muito piores do que os sedãs em tudo o que se propõem, os SUVs oferecem uma compra muito mais “emocional”: seu alto valor e o status de prestígio que passam para a sociedade acabam motivando diversas pessoas a ingressarem na categoria. Porém, como já foi dito, a categoria pode apresentar diversos problemas para uma parcela dos consumidores, principalmente quando pensamos nos custos que esses veículos geram para seus condutores. Em todo o caso, para o bem ou para o mal, a categoria dos esportivos é verdadeira protagonista do ano, e seguirá dessa maneira por um bom tempo.

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