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A NOVA PICAPE DA FIAT

03/04/2024

A NOVA PICAPE DA FIAT

ENTENDENDO OS DESAFIOS QUE A TITANO IRÁ ENFRENTAR

Autor: Matheus Rodrigues


   Com quase 4 anos de atraso desde o seu “anúncio”, a FIAT Titano finalmente chegou ao Brasil, dando o pontapé inicial para essa nova aventura da montadora italiana que, enfim, pode dizer que possui uma picape média de verdade (não levem para o lado pessoal, amantes da FIAT Toro). Porém, a FIAT tem uma dura missão pela frente: enfrentar um segmento que possui modelos extremamente consolidados. Mais do que analisar o que a Stellantis oferece em sua picape, vamos dar uma passada geral no que a FIAT terá que enfrentar para conseguir mais um sucesso na conta. Sem mais delongas, vamos ao texto.

 

PARA VOCÊ, 4 ANOS NO FUTURO – ORIGEM E EQUIPAMENTOS

 

   Apesar de hoje estar sob domínio da marca com maior participação no mercado brasileiro, a FIAT Titano já teve outro nome: Peugeot Landtrek. O antigo projeto francês era derivado de um veículo da conhecidíssima Changan, montadora estatal chinesa que é dona da Hunter, picape que será mencionada mais a frente nesse texto. A Landtrek foi anunciada para o mercado nacional em 2020, mas acabou passando por mudanças após a formação do conglomerado Stellantis em meados de 2021. Quando a FIAT Chrysler Automobiles e o grupo PSA estabeleceram essa união, diversas mudanças em posicionamentos foram feitas, bem como adaptações nos projetos que estavam por vir (mas isso é história para outro texto). Nesse acidente de percurso, a Landtrek acabou indo para as mãos da renomada engenharia da FIAT e recebeu o nome de Titano, sendo antecipada para o Brasil em meados do último ano, mas chegando oficialmente apenas em Março.

   A Titano chega para o Brasil com o toque FIAT, ou seja, a consagrada engenharia italiana inseriu os ajustes necessários para que picape se tornasse competitiva no segmento em que chegou. Ela conta com um motor turbodiesel 2.2 com 180cv de potência, diferente do motor original que acompanha a picape no exterior (turbodiesel 1.9 com 170cv). O torque da picape é de 37,7 kgfm em sua versão manual, subindo para 40,8 kgfm nas versões automáticas. Em dimensões e capacidade de carga/tamanho da caçamba, a Titano está em pé de igualdade com suas concorrentes, cumprindo o mínimo para ser considerada “interessante” para o público.

   O grande ponto que faz a Titano ser uma “ameaça” para as concorrentes está em seu preço: R$ 219.990 em sua versão Endurance (versão de entrada), possuindo desconto para Pessoas Jurídicas, o que pode fazer com que a picape fique na faixa de R$ 200 mil. É nesse ponto que a FIAT se destaca, provando como conhece o mercado nacional e sabe que, assim como a confiabilidade e tradição são fatores decisivos para a compra, a economia que a Titano traz para o frotista/trabalhador rural, quando colocada na ponta do lápis, pode fazer com que os públicos menos fiéis migrem para ela. No fim das contas, é uma aposta, e não tão arriscada vindo da montadora que já possui o carro mais vendido do país.

 

UM MERCADO QUE JÁ ESTÁ CONSOLIDADO

 

   A FIAT foi bem-sucedida em praticamente todos os segmentos em que se propôs a entrar, e isso já acontece há décadas. Do falecido Palio até o Pulse, o SUV que coloca um segmento inteiro em xeque, a montadora italiana sempre conseguiu emplacar veículos de sucesso ao longo de sua história. Porém, as receitas de sucesso da FIAT podem não ser o suficiente para que a Titano seja a “Strada das picapes médias”. Como já falamos anteriormente e também como praticamente todos os veículos de imprensa vêm apontando, o fato da Titano ser um projeto de 2019 já a coloca atrás de suas concorrentes em diversos quesitos. Anteriormente mencionamos que a picape italiana é derivada de um projeto chinês da Changan e, quando olhamos para o mercado asiático, já vemos picapes com tecnologias muito superiores ao que a FIAT acaba de entregar. A Hunter, picape que inspirou a Titano, acaba de receber uma nova geração, agora como híbrida plug-in. E não só a China como também outras montadoras estão se dedicando a eletrificação, uma vez que ela é uma excelente alternativa para o mercado atual. Seja a Ford com sua F-150 Lightning ou até mesmo a nova geração da Hilux, o mercado de picapes já percebeu que os consumidores estão cada vez mais exigentes e que a modernização é algo necessário para o futuro do segmento.

   E falando em modernização, esse conceito não se aplica somente à motores elétricos ou híbridos, mas também à outras questões que englobam o conforto da clientela. A Titano vem sendo duramente criticada por conta de pontos básicos como autonomia de combustível e até mesmo dirigibilidade. Vale lembrar que, quando falamos do segmento das picapes médias, entramos num território que possui dois lados completamente distintos. O primeiro deles é o cliente que compra picapes médias porque tem apreço por esse tipo de veículo, enxergando nele um luxo que o SUV não pode entregar. Picapes não são apenas carros grandes e imponentes, mas também veículos que possuem potência o suficiente para entregar a força necessária para vencer o asfalto e a terra, diferente de um Nivus ou de um Tracker. Este tipo de consumidor, ainda que se depare com as versões Ranch e Ultra da picape da FIAT, provavelmente não as comprará, uma vez que o público que compra esse tipo de picape média é extremamente fiel e está disposto a pagar mais caro para ter uma nova Hilux ou uma Frontier.

   O segundo público, este sim pode ser o grande trunfo da Titano: o microempresário ou frotista que está precisando de uma picape para trabalho e, por diversas questões, não consegue acessar as versões de entrada das médias mais conhecidas. Com um desconto para Pessoas Jurídicas, a Titano pode sair por cerca de R$ 200 mil, o que a posiciona como uma picape extremamente barata, de maneira que nem as versões de entrada da Frontier ou da Hilux conseguem competir (citando apenas elas porque a diferença de preço para versões de entrada da S10 ou Ranger estão muito distantes da Titano). Na ponta do lápis, qualquer economia faz diferença para este público, diferente do primeiro público que, caso tenha que pagar R$ 30 mil para comprar uma RAM Rampage, certamente irá gastar para ter um luxo a mais. A FIAT, como uma montadora que conhece o Brasil, sabe bem o que está fazendo e tem plena noção do que está para enfrentar, e a Titano, ainda que não chame atenção em seus equipamentos ou potência, certamente não será um Chevrolet Agile.

   Com isso em mente, o sucesso da Titano é algo incerto. Não vale a pena entrar em questões muito técnicas, até porque ela dificilmente se destaca em relação às concorrentes, mas estamos falando da FIAT, a mesma montadora que é dona da picape que carrega o segmento do zero quilômetro nas costas (ou na caçamba, já que estamos falando de picapes). No mercado dos 0KM, existem produtos de luxo e produtos feitos para fazer volume, ainda que eles não gerem muito retorno, mas conseguirão manter seu nome apenas com a quantidade de vendas, e este parece ser o caso da Titano. Os próximos meses serão cruciais para que a nova picape italiana prove sua força contra as concorrentes, desenhando um futuro que pode ser tanto bom quanto ruim.

 

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